RITA E MATIAS

 

I

MATIAS

Matias sentou-se no banco da praça, tirou a caixa de fósforos e o maço amassado de cigarros do bolso da calça, e, calmamente, acendeu seu último cigarro.

Sabia que aquele cigarro tinha um simbolismo todo especial, que era uma espécie de sinal, um sinal que demonstrava claramente o final de uma fase de sua vida.

Era apenas o que lhe restava, aquele maldito cigarro, que ele fumava com um misto de prazer e medo.

O dinheiro que ele ganhou com anos de trabalho se acabava ali. O último real que tinha serviu para o último maço.

Não sabia mais o que fazer de sua vida...Achava-se covarde demais para roubar e orgulhoso demais para pedir qualquer tipo de ajuda.

Estava financeiramente quebrado, e sentia que sua vontade ficava mais fraca a cada dia, a cada minuto, a cada tragada...

Queria alguém para conversar, alguém para abraçar e chorar...

Abaixo a cabeça e a segurou com as mãos, desesperado, não conseguia pensar em nada, tinha apenas uma certeza:

Estava sozinho.

Lembrou com tristeza de tempos mais alegres, tempos aqueles em que jamais se sentiria tão abandonado.

Tinha certeza dos erros que cometeu, e que seria muito difícil corrigi-los.

Olhou em volta e viu apenas mais uma outra pessoa na praça. Uma moça que aparentava cerca de trinta anos, passeando com um pequeno cachorro, ela parecia olhar para ele, mas Matias não deu importância.

Voltou ao seu mundo de pensamentos tristes e não mais deu atenção ao mundo à sua volta.

Assim que acabou o cigarro começou a cantarolar uma canção dos mutantes:

"O meu cigarro acabou, eu vou cantar um rock’n’roll

O meu dinheiro acabou, eu me liguei no rock’n’roll"

 

II

RITA

Rita estava infeliz. Acordou mais uma vez amaldiçoando Deus por ter acordado.

Levantou da cama apenas porque seu cachorro insistia em latir.

Colocou a água e a comida do cachorro e se preparou para levá-lo a um passeio pelo bairro. Fazia tudo de forma automática, quase como um robô, uma formiga, um zumbi.

Zap (o cachorro) corria feliz, parava em alguns postes e árvores, cheirava e urinava, Rita se arrastava atrás tentando (sem muita vontade) controlar o alegre animal.

Desde que se separou do marido a vida lhe parecia vazia. Apesar de , racionalmente, saber que a vida era melhor sem ele (Que a agredia verbal e fisicamente), não estava acostumada com a solidão, durante toda a sua vida teve alguém ao seu lado, mas por causa de seu funesto casamento perdeu todas as amizades e se afastou de sua família.

Agora restava apenas Zap, seu querido companheiro.

 Começou a prestar mais atenção no cachorro, e até arriscou um sorriso: Como ele parecia alegre, ela pensou, o melhor amigo do homem...

Chegou até a praça do bairro e continuou sendo guiada pelo cachorro, viu que havia um homem sentado sozinho, fumando um cigarro e olhando para o vazio.

Ele virou o rosto na direção de Rita, e seus olhares se encontraram por um breve instante...

Foi quase o suficiente para algo mudar em sua alma...

É apenas carência, ela pensou, não queria falar com um estranho...O que ele pensaria???

Então seguiu o caminho de volta para casa, pensando no que faria para o almoço...

 

FIM.